Encaro o mundo através da janela da minha
casa e enxergo nuvens brancas na imensidão do céu azul. De pé no declive de um
morro, e cercada por montanhas altas, respiro e sinto as cores em toda a sua
intensidade. Lá fora, o sol se prepara para partir, lavando as árvores com seu
brilho caliente do fim de um dia de primavera. Percebo nas cores sentimentos, e
sentimentos são prova taxativa de que existe a vida em pleno vigor. As nuvens,
alvas e imaculadas, me passam, por serem brancas, umas sensação de liberdade —
porque o branco é a única cor que tem a liberdade de ser a cor que quiser. E se
todas as cores moram no branco, então essa cor pode bem ser o espectro das
emoções humanas, de todos os sentimentos que temos a capacidade de vivenciar.
Por que algumas pessoas tornam-se apáticas? Perco-me em questionamentos e
dúvidas enquanto divago sobre a complexidade de ser. E tomo para mim o branco
como a cor representativa da liberdade e da plenitude de vida; que, se na pele
as cores nada significam além de determinação genética, na alma elas transbordam de
significados mais diversos e abrangentes. E se a lua, que em noites comuns é
alva, consegue despir-se de sua brancura e trajar um vestido amarelo,
alaranjado ou vermelho, evento de noites raras, isso é porque o branco dá
liberdade para ela. Porém, como é impossível a existir a perfeição, o branco em
si não é inteiro; há uma cor que nele não se cabe, e essa cor é o preto — assim
como da lua não sai um único ponto de escuridão. Enquanto isso, ela precisa da
escuridão para brilhar, porque claro e escuro se completam, as cores se
completam, assim como os sentimentos agradáveis juntam-se em coesão com os
menos palatáveis para formar uma consciência vibrante em vida. E, à medida que
o sol vai indo embora, observo as nuvens assumirem diversos tons de vermelho, alaranjado, rosa, azul, e roxo; e vejo nelas uma infinita poesia.
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