De sonhos, grandes ou pequenos,
imaginativos ou realistas, o mundo está cheio, e cada pessoa é também cheia de
sonhos, e acho que inclusive que eles é que são o combustível do mundo. Mesmo
aqueles desesperançados, que não trazem a firmeza de ser uma possibilidade
real, talvez ajudem a mover o mundo, porque ainda servem de estímulo para
alguns continuarem a se mover. Daqui, contemplativa, reflito um bocado sobre o
assunto. Sempre fui cheia de sonhos também, alguns menores, outros maiores,
alguns urgentes e outros que podem esperar, vários que se realizaram, outros
pelos quais lutos e alguns dos quais já desisti por não valerem a pena ou por
não serem reais. Tenho agora um sonho desse último tipo: queria que este começo
de 2018 me desse uma fermata, para que assim eu pudesse me demorar nele ainda o
quanto quisesse. Não é que eu quero parar no tempo, ficar acomodada no agora e
deixar de progredir — o que eu queria mesmo era aproveitar o último gostinho
dessa estabilidade que vai embora, dessa certeza do que acontecerá depois, talvez
deixando um gosto amargo de suor. Ah, porque nesta época da vida, a tendência é
de derrubar muitas lágrimas, produzir muito suor. Já não sei o que será deste ano, e isso não costumava acontecer. Refiro-me ao desafio que é
concluir o ensino médio e, pela primeira vez em anos, não ter nada garantido
para os próximos passos. Antes era assim: terminou um nível, vá para o outro.
Podia mudar de escola, de cidade, de estado, mas sempre teria sequência o ciclo
dos anos escolares. E pode até parecer drama, pode até parecer que não, mas
concluir o ensino médio dá uma crise existencial, uma dúvida do tipo
não-sei-o-que-vou-fazer-da-vida, embora eu saiba o que quero. É que tudo gira
em torno de uma aprovação. É apenas daí que vem a certeza de poderei perseguir
um sonho, construir uma carreira na tão sonhada profissão. Mas na contraparte
dessa condição, para o jovem que não for aprovado, é um ano de luta desperdiçado,
é uma batalha inteira perdida na guerra pela sobrevivência. E nutro o desejo de
que este mês dure um pouco mais, de modo que eu pudesse me agarrar nele, segurar
o acorde por mais um tempo, pelo tempo necessário de preparar a minha mente, de
ler o próximo compasso da partitura e saber o que fazer a seguir. Porque o
segredo é não chorar se perder, é não reclamar, não fazer uma festa de
lamentação; o esquema é seguir em frente, tentar novamente, porque ninguém pode
andar se a mente parar. Não, o corpo não aguenta se a mente se entregar. Mas na
melodia da vida não existem fermatas, não existem repetições, não existe tempo
que podemos reviver, controlar, não dá para voltar atrás. O jeito é se vestir
de determinação e seguir em frente de cabeça erguida, é preciso não acelerar o
passo depois de cair na calçada só por causa da vergonha que traz a urgência de
sair logo dali. Sábio é caminhar naturalmente, seguindo o próprio ritmo, mesmo
depois de uma queda. E que naturalmente siga o tempo da música.
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