É sofrer a
consequência de um erro que custou caro.
É perder uma
amizade a preço de orgulho.
É o término de um
relacionamento.
É quando um lar
cessa de sê-lo porque você já cresceu demais para caber nele e precisa voar
logo antes que cresça ainda mais e não sobre mais espaço para abrir as suas
asas.
É quando uma
cicatriz faz a integridade de seu corpo cair para noventa e nove por cento, e
quando uma dor ainda não identificada o coloca pronto para aceitar o fato de
que será preciso pegar mais leve nos exercícios impactantes.
É quando uns
quilinhos perdidos voltam, adicionando peso morto ao corpo.
É quando se
conclui o ensino médio e dá-se conta de que o dia a dia não permanecerá o mesmo.
É quando o ano
está para acabar e o ciclo dá seus últimos nós antes do desmanchador de costura
do tempo e destino nos colocar novamente de pé sobre a primeira linha de uma
folha em branco.
É quando um
grande projeto pelo qual se trabalhou durante o ano inteiro finalmente foi realizado
com sucesso, tornando inteiramente desnecessário o processo de preparação.
É quando chega o
aniversário de morte de uma autora favorita que faleceu décadas antes de eu
nascer.
É quando a festa
acaba.
É quando o sol
nasce e se é obrigado a despertar dos sonhos para viver mais um dia, e os
sonhos se tornam apenas vagas lembranças embaçadas.
É quando a
ansiedade sufoca a alma e impede de vivenciar os bons momentos da vida, que vai
passando enquanto vou ficando, presa pelas palpitações que encolhem o peito.
É quando chego no
fim daquela barra de chocolate deliciosa.
É quando a
infância acaba e com ela vai-se embora a fascinação por certas coisas corriqueiras.
É quando termina
o ano em que a maioria dos feriados caiu numa quinta-feira.
É quando sei que
não pude fazer uma gradação.
É quando não se
tem mais notícia de rostos conhecidos e queridos.
É quando, como
agora, sou abatida pelo sono e o ritmo piora.
E é nas pequenas
perdas cotidianas que sinto na boca o sabor amargo de uma amostra da morte e,
embora ela não tenha chegado ainda, sempre dá jeito de estar presente — afinal, a morte faz parte da vida.
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