sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Pequenos Lutos

      É sofrer a consequência de um erro que custou caro.
      É perder uma amizade a preço de orgulho.
      É o término de um relacionamento.
      É quando um lar cessa de sê-lo porque você já cresceu demais para caber nele e precisa voar logo antes que cresça ainda mais e não sobre mais espaço para abrir as suas asas.
      É quando uma cicatriz faz a integridade de seu corpo cair para noventa e nove por cento, e quando uma dor ainda não identificada o coloca pronto para aceitar o fato de que será preciso pegar mais leve nos exercícios impactantes.
      É quando uns quilinhos perdidos voltam, adicionando peso morto ao corpo.
      É quando se conclui o ensino médio e dá-se conta de que o dia a dia não permanecerá o mesmo.
      É quando o ano está para acabar e o ciclo dá seus últimos nós antes do desmanchador de costura do tempo e destino nos colocar novamente de pé sobre a primeira linha de uma folha em branco.
      É quando um grande projeto pelo qual se trabalhou durante o ano inteiro finalmente foi realizado com sucesso, tornando inteiramente desnecessário o processo de preparação.
      É quando chega o aniversário de morte de uma autora favorita que faleceu décadas antes de eu nascer.
      É quando a festa acaba.
      É quando o sol nasce e se é obrigado a despertar dos sonhos para viver mais um dia, e os sonhos se tornam apenas vagas lembranças embaçadas.
      É quando a ansiedade sufoca a alma e impede de vivenciar os bons momentos da vida, que vai passando enquanto vou ficando, presa pelas palpitações que encolhem o peito.
      É quando chego no fim daquela barra de chocolate deliciosa.
      É quando a infância acaba e com ela vai-se embora a fascinação por certas coisas corriqueiras.
      É quando termina o ano em que a maioria dos feriados caiu numa quinta-feira.
      É quando sei que não pude fazer uma gradação.
      É quando não se tem mais notícia de rostos conhecidos e queridos.
      É quando, como agora, sou abatida pelo sono e o ritmo piora.
      E é nas pequenas perdas cotidianas que sinto na boca o sabor amargo de uma amostra da morte e, embora ela não tenha chegado ainda, sempre dá jeito de estar presente afinal, a morte faz parte da vida.

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