De rosto limpo, sem base, sem pó, sem
sombra, sem blush, maquio-me com um sorriso, e deixo pulsar em mim a luz de
esperança alentadora; esperança de que as coisas possam ser melhores a cada
dia. Porque olha, a vida pode ser bela, a vida pode ser boa, mas erros e
contradições fazem parte da natureza humana — e alguns erros custam caro, muito caro. E todos os
dias é necessário aprender a lidar da melhor maneira possível com as próprias
falhas, e assim vai-se aprendendo a encarar a vida de forma mais leve e
despreocupada, sem criar tanto caso de coisas pequenas, sem se deixar sugar por
pessoas de intenções negativas. Existem tantas coisas que, se me acontecessem
há alguns anos, ou há poucos meses, seriam capazes de estragar o meu dia, mas
que agora já não podem me afetar tanto. É que a mente muda de um estado para o
outro e acho que isso ocorre por causa de uma busca constante pela saúde
emocional. Mas não estou dizendo que me insensibilizei para as coisas — estou, em
verdade, me vacinando contra o que não agrega. E a cada dia, tudo se torna mais leve, mais simples, e
as coisas vão melhorando ao ponto de eu não sentir tanto o desespero que
costumava andar ao meu lado todos os dias, no peito sempre apertado e palpitante,
junto com uma raiva contida que, ao menor desagrado, era injustamente atirada
sobre alguém. Meus problemas já não pesam tanto, não são mais capazes de me
definir; porque aprendi, a duras penas, que embora cometa muitas falhas, eu
mesma não sou uma. E é por isso que a cada dia o sol nasce outra vez, a cada
vez uma nova chance de tudo ficar bem. E aquela ansiedade toda, que estava
muito além dos limites do saudável, ainda está comigo sim, mas diminuída e se
enrareceu sua capacidade de me paralisar. E com o tempo vou aprendendo a me
tratar melhor, cultivando a gentiliza dentro de mim e levando-a para os outros
em um reflexo da esperança de evoluir em meus caminhos. Evoluir: palavra que é
tão bela quando seu significado é visto na prática, porque o que evolui é o que
cresce de dentro para fora, e ao crescer se desenvolve em maturidade. E sei
muito bem, apesar de romantizar um pouco as coisas, que a evolução é apenas uma
ferramenta necessária e essencial para a sobrevivência.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
Pequenos Lutos
É sofrer a
consequência de um erro que custou caro.
É perder uma
amizade a preço de orgulho.
É o término de um
relacionamento.
É quando um lar
cessa de sê-lo porque você já cresceu demais para caber nele e precisa voar
logo antes que cresça ainda mais e não sobre mais espaço para abrir as suas
asas.
É quando uma
cicatriz faz a integridade de seu corpo cair para noventa e nove por cento, e
quando uma dor ainda não identificada o coloca pronto para aceitar o fato de
que será preciso pegar mais leve nos exercícios impactantes.
É quando uns
quilinhos perdidos voltam, adicionando peso morto ao corpo.
É quando se
conclui o ensino médio e dá-se conta de que o dia a dia não permanecerá o mesmo.
É quando o ano
está para acabar e o ciclo dá seus últimos nós antes do desmanchador de costura
do tempo e destino nos colocar novamente de pé sobre a primeira linha de uma
folha em branco.
É quando um
grande projeto pelo qual se trabalhou durante o ano inteiro finalmente foi realizado
com sucesso, tornando inteiramente desnecessário o processo de preparação.
É quando chega o
aniversário de morte de uma autora favorita que faleceu décadas antes de eu
nascer.
É quando a festa
acaba.
É quando o sol
nasce e se é obrigado a despertar dos sonhos para viver mais um dia, e os
sonhos se tornam apenas vagas lembranças embaçadas.
É quando a
ansiedade sufoca a alma e impede de vivenciar os bons momentos da vida, que vai
passando enquanto vou ficando, presa pelas palpitações que encolhem o peito.
É quando chego no
fim daquela barra de chocolate deliciosa.
É quando a
infância acaba e com ela vai-se embora a fascinação por certas coisas corriqueiras.
É quando termina
o ano em que a maioria dos feriados caiu numa quinta-feira.
É quando sei que
não pude fazer uma gradação.
É quando não se
tem mais notícia de rostos conhecidos e queridos.
É quando, como
agora, sou abatida pelo sono e o ritmo piora.
E é nas pequenas
perdas cotidianas que sinto na boca o sabor amargo de uma amostra da morte e,
embora ela não tenha chegado ainda, sempre dá jeito de estar presente — afinal, a morte faz parte da vida.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
Perdido
Um dia, um escritor traduziu os
seus textos para todas as línguas existentes na Terra. Eram tantas palavras se
confundindo em tão ampla mixórdia que, ao terminar, ele já não podia identificar
quais palavras pertenciam à sua língua materna e quais palavras voavam soltas
pelo mundo. O escritor então se esqueceu como se escreve e, não podendo mais
escrever, enlouqueceu, transformando sua vida em meras palavras antigas que se
escondiam em uma gaveta, os papeis a amarelar.
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